Alceu Collares 1200x630
Osvaldo Maneschy e Apio Gomes 
27/03/2019

“Jango sentia o que os pobres sentiam. Ele era um grande proprietário de terras, mas não hesitou em decretar a reforma agrária, porque era socialmente sensível; até mais sensível do que Brizola”, garantiu o ex-governador e ex-deputado Alceu de Deus Collares – professor gaúcho, que se transferiu de Bagé para Porto Alegre “para melhorar de vida”, e se formou advogado pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

Collares define-se como admirador do Trabalhismo e fiel seguidor das lideranças de Getúlio Vargas, João Goulart e de Brizola, a quem só veio a conhecer pessoalmente, já no exílio do Uruguai.

Isto, porém, não o impediu de frequentar assiduamente o galpão, no Centro de Porto Alegre, onde comparecia, sempre que podia, “sentando lá no fundo, apenas absorvendo as palestras”, nas reuniões promovidas por Jango e Brizola para simpatizantes da linha política do velho Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), que, junto com Vargas, lideravam no Rio Grande do Sul.

– “Lecionava na Associação Cristã dos Moços e, vez por outra, ia até a praça, onde tinha o enorme barracão em que Brizola fazia palestras: ouvia e ia embora. Gostava das ideias; apoiava os ideais de Jango, Brizola, Pasqualini e Vargas”.

Segundo Collares, “para entender o Trabalhismo, tem que se ler Pasqualini; porque o mais profundo no pensamento trabalhista é Pasqualini”, embora Jango, em sua opinião, foi o que mais avançou ideologicamente.

“Jango levou o povo a aprofundar o seu pensamento político, pregando as reformas de base. Na Presidência, ele fez o que dizia na sua pregação, mexendo com a direita. Quem mais confrontou e enfrentou a direita no Brasil foi o Trabalhismo”, afirmou.

Na campanha da Legalidade, em 1961, aluno recém-formado pela faculdade de direito, assistiu às pregações de Brizola pelo rádio, a partir do Palácio Piratini; viu o povo se alistando para a luta na Borges de Medeiros e jamais imaginou que, um dia, pudesse entrar no Piratini pela porta da frente como governador.

Collares admirou e admira Jango, porque ele – grande proprietário de terras – aceitou ideologicamente a reforma agrária e, Presidente da República, decretou-a para que se realizasse ao longo das estradas. “Jango tinha paixão pelas camadas pobres: ele sentia o que o pobre sentia”, destacou. Em sua opinião, a sensibilidade de Jango vinha da luta de Getúlio, de quem era amigo e seguidor e, por isto, ministro de Getúlio, aumentou o salário mínimo em 100%, desencadeando a ira da direita.

“Jango, como Brizola e Pasqualini, tinha profundidade social, tinha lado: o dos trabalhadores, o de Getúlio e o do PTB. Por isto ficou marcado”.

Confira a entrevista completa abaixo: