Diretório Estadual do Rio Grande do Sul

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Atualmente tem-se falado muito sobre o empoderamento feminino pela mídia, através de propagandas de grandes empresas de cosméticos, roupas e até mesmo de gigantes gravadoras. No entanto essa repentina preocupação nos causa um estranhamento, já que as mesmas há pouco tempo não demonstravam tamanho interesse e preocupação sobre a “desconstrução dos padrões de beleza”, os quais foram impostos por elas mesmas.

Com a ascensão do feminismo, o empoderamento feminino virou assunto frequente na mídia e nas redes sociais. As mulheres aos poucos se livram das amarras de uma sociedade machista e se aceitam como são, entretanto isso acabou sendo usado como uma ferramenta para o capitalismo, as grandes empresas viram nesse poder a chance de vender mais. A estratégia de marketing baseia-se em vender produtos que prometem empoderar essas mulheres, quando na verdade eles apenas estão querendo ganhar dinheiro sem se preocupar com a causa. Essa situação fica gritante quando outras causas feministas são desprezadas e até mesmo condenadas pela grande mídia. Isso demonstra que aquela marca super moderna que se diz feminista, ou até mesmo aquela cantora incrível, estão apenas querendo ganhar dinheiro em cima das mulheres, as desrespeitando e mexendo muitas vezes também com o psicológico, já que vários produtos de cosméticos agridem a saúde da mulher fazendo-a ter perdas de cabelo, alergias, dentre outras trágicas consequências devido a utilização dos mesmos.

Além das ações promovidas por essas empresas, também vemos a mudança em programas de televisão que antes eram visivelmente machistas utilizando a mulher como um objeto para adquirir maior audiência, hoje adquiriram uma outra forma de se expressar para não perder seus telespectadores, já que os mesmos mudaram seus conceitos. Contudo, o público ter mudado não significa que as cabeças por trás desses programas tenham mudado, na vida real são essas pessoas que batem, abusam e desrespeitam mulheres.

Essa mudança deu-se em grande parte pela ascensão das redes sociais, pois graças à ela nos dias atuais é extremamente fácil expor uma opinião e ser ouvida por um grande número de pessoas. Um exemplo disso aconteceu no início de 2018 com a música “só uma surubinha de leve”, a música além de machista fazia apologia ao estupro e foi derrubada pelas redes sociais de todas as plataformas de streaming. Esse poder que aterroriza a mídia faz com que aconteça essa mudança de comportamento tão repentina. Já com as empresas de produtos é importante parecer “cool”, além de investir nessa pauta feminista, as cores, os logos, os layouts ganharam novos modelos, mais jovens e contemporâneos, agradando os olhos das pessoas, além do alto investimento em redes sociais, com estagiários respondendo perguntas 24 horas por dia e do marketing digital.

Estas grandes empresas que se utilizam de mídias, como importantes emissoras televisão através de propagandas, novelas e programas com audiências razoáveis, além das mídias digitais têm se apropriado do que para alguns se trata de “grandes pautas feministas”, boa parte delas focadas na liberdade individual, diminuindo assim o poder da luta coletiva. O mercado tem se apropriado dessas liberdades individuais dando ênfase no empoderamento feminino, calcada na liberdade de ser, usar e se comportar como quiser.

Nota-se que há algo positivo nesta pauta, pois por muito tempo ficamos à mercê das escolhas e decisões do sexo masculino, porém resumir a luta das mulheres a essa pauta rasa, é no mínimo triste e lamentável. A mídia, dessa forma, acaba por convencer não só mulheres com pouco ou nenhum conhecimento político como também militantes com ideologias distintas, as quais acabam disseminando freneticamente por estar intrincado na forma de pensar e na prática das mesmas.

Sabendo disso, é importante adquirir um certo conhecimento político para compreender que o empoderamento feminino não se baseia em marketing e que o mesmo está sendo utilizado para fins lucrativos. Além disso, não basta adquirir tal conhecimento para compreensão, deve-se com isso, transmitir este conhecimento para mudar esta realidade.

O empoderamento não consiste em estética e representatividade e sim o posicionamento e inclusão das mulheres em todos campos sociais, políticos e econômicos de forma que nós mulheres possamos participar de debates públicos e decisões sobre o futuro da sociedade.

Nós mulheres, devemos lutar pelos nossos direitos e não permitir que o mercado se aproveite do nosso poder de participação social com um único objetivo, lucrar. Estando ciente disto, não simplifiquemos nossa luta à esta pauta rasa e não parabenizemos estas empresas por hoje dar visibilidade às mulheres, sabendo que os padrões de beleza foram impostos pelas mesmas e continuam a nos objetificar.

Por: Jéssica Oliveira, Júlia Farias Ferreira e Juliene Luçardo

Movimento Feminista Rosa Luxemburgo/JS Piratini