Diretório Estadual do Rio Grande do Sul

Juliana Brizola 2
 
Osvaldo Maneschy e Apio Gomes 
23/04/2019

Desde criança, Juliana Brizola, deputada estadual no Rio Grande do Sul pelo PDT, ouviu de sua família que – diferentemente de seu avô Brizola: um homem decidido e impetuoso – Jango, seu tio-avô, era uma pessoa muito simples, conciliadora, que gostava de conversar com todos indistintamente, pobres ou ricos, porque era homem de muito diálogo.

“É uma honra, para mim, dizer que sou da família Goulart”,
explica Juliana, que não chegou a conhecer Jango pessoalmente, mas acha que
teria muito a ganhar se tivesse convivido com ele, “ainda mais nos dias de
hoje, em que falta diálogo; tem muita gente surda”. Em política, o diálogo “é o
que mais me atrai”.

Ela entende que se não fosse Brizola – este homem decidido e
impetuoso – Jango não teria chegado à Presidência da República quando os
militares vetaram sua posse: ele, governador gaúcho, se insurgiu e ergueu o Rio
Grande do Sul, em armas, para garantir a posse do cunhado.

Mas “a maior arma de Brizola foi o microfone”, argumentou
Juliana, destacando que, no episódio da Legalidade, Brizola conscientizou quem
o ouvia, através da Rádio Guaíba, inclusive comandantes militares, de que era
fundamental para o Brasil garantir a letra da Constituição que estava em vigor.

O movimento da Legalidade, define Juliana, deve servir de
exemplo para que não se repita, nos dias de hoje, o que tentaram fazer naquela
ocasião, pois “quem conhece o seu passado tem mais chances de acertar o
presente e construir o futuro”.

Sobre as reformas de base pregadas por Jango, destacou que a
reforma agrária, por exemplo, é necessária até hoje ao Brasil: “reforma agrária
na linha de Brizola, de Jango, sem invasão de terra”. Outra questão é o
controle sobre a remessa de lucros das multinacionais – as “perdas internacionais”
sempre citadas por Brizola –, questão que Jango tinha a consciência de ser
necessária; até porque “as multinacionais vêm para o Brasil, sugam tudo, levam
para fora o que lhes interessa, sem se preocupar com o Brasil”.

Juliana tem a certeza de que se João Goulart tivesse
concluído o seu período na Presidência, “teríamos hoje outro Brasil”. Jango na Presidência,
destacou, “foi traído do início até o fim”; e o golpe de 64 foi um retrocesso
na história do povo brasileiro.

“Foi um período muito difícil, não só por causa das prisões, torturas e mortes, mas também pela questão da soberania nacional” que, em sua opinião, passa pela liberdade do povo e pelo controle, pelo governo brasileiro, dos setores estratégicos da economia, algo que os grandes líderes do Trabalhismo – Getúlio Vargas, João Goulart e Leonel Brizola – sempre fizeram.

Juliana falou, em seu depoimento, sobre as cicatrizes profundas
que o exílio deixou nas famílias de seus dois avôs – os Brizola e os Daudt. Seu
avô Alfredo Daudt, que era militar da Aeronáutica, resistiu ao golpe; e, por
conta disto, foi cassado e perseguido na ditadura. “O exílio deixa marcas
profundas; e só quem viveu entende”.

Defensora do entendimento, Juliana acha fundamental
preservar o diálogo, porque “o brasileiro tem que ter o direito de pensar como
quiser”. Ao concluir, definiu Jango em uma frase: “Ele era um homem que gostava
de ouvir o próximo; dava voz a todos; era pessoa simples e de diálogo”.