Rossano Goncalves

Neste dia 24 de agosto, o país rememora os 63 anos do ato extremo praticado pelo presidente Getúlio Vargas contra a sua própria vida, no que se tornou o desfecho mais trágico de uma crise política em toda nossa história. Acossado por pressões políticas e militares que pretendiam retirá-lo à força do poder, preparou antes do seu gesto trágico um documento de despedida à Nação, a “Carta-Testamento”, que se tornou, para sempre, um símbolo da causa que inaugurou na vida pública brasileira: o Trabalhismo.

            Mais de seis décadas depois, com o país imerso em uma crise política e institucional que radicaliza posições e divide profundamente o tecido social, é urgente uma reflexão sobre o lugar do Trabalhismo no tumultuado ambiente político nacional. Durante a última década, movido pelo sincero desejo de cooperar na construção de conquistas sociais para a maioria sofrida da população, o PDT participou de gestões que, apesar de destinarem recursos para os mais pobres através do Bolsa Família, se revelaram mais generosas ainda com os detentores do grande capital, através de generosos repasses do BNDES. O resultado é conhecido de todos nós: 14 milhões de desempregados, um exército de empreendedores na informalidade e um escândalo de corrupção nascido na Petrobras, justamente a estatal-símbolo do projeto trabalhista de soberania nacional.

            É preciso refletir para além da falsa dicotomia entre coxinhas e mortadelas, tucanos e petralhas. Os projetos políticos encarnados pelos dois grupos já foram testados, e demonstraram ser muito semelhantes nos seus aspectos econômicos, e não se mostraram capazes de resolver alguns dos problemas principais do país: o estrangulamento dos juros da dívida, uma definição clara dos papeis dos Poderes e do Ministério Público, a reconstrução do Pacto Federativo com mais recursos para os Municípios.  É a decepção com estes dois projetos que faz boa parte da Nação olhar para pretensos salvadores da Pátria, com um discurso de força que não esconde saudades de um regime de exceção, outra solução já testada no passado. O país precisa de um novo caminho.

            Mas para que o Trabalhismo seja este caminho novo, precisa ter a coragem cívica de se posicionar com clareza. Se, ao contrário, não deixarmos claro nosso compromisso com as liberdades individuais e flertarmos com posições arbitrárias, ficamos como meras correias de transmissão de outras forças políticas. Já no princípio, Alberto Pasqualini, grande doutrinador trabalhista, ensinava que “o ambiente do Trabalhismo só pode ser o da Democracia, pois somente através das instituições e do mecanismo democrático pode o povo fazer sentir sua vontade e fazer valer seus direitos”.  Precisa somar forças com todos os trabalhadores, os terceirizados, os sem sindicato, e não somente com os grandes privilegiados do setor público. Temas como equilíbrio das contas públicas não são mais ideológicos, e sim uma questão de sobrevivência para governos municipais, estaduais e para a vida nacional.

O Trabalhismo possui as condições de trazer desenvolvimento com paz social e respeito à democracia. Não basta citar Getúlio e Brizola em nossos discursos, se não tivermos a coragem que eles tiveram em sua época: olhar para o futuro e promover mudanças que geraram empregos e valorizaram a Educação. Hoje, a maneira mais correta de homenageá-los é ter o passado como referência, não como prisão mental, e construir rumos para o futuro do país.

Rossano Dotto Gonçalves - Prefeito Municipal de São Gabriel