Mais da metade da população brasileira é composta por mulheres. Por outro lado, elas não representam 10% do quadro político no país. O fato está impresso no resultado das últimas eleições municipais: de cada 10 prefeitos eleitos em primeiro turno, apenas um é do sexo feminino.

Atento a esse fato, o PDT tem lutado pela inserção da mulher na política por meio do seu forte braço feminino, a Ação da Mulher Trabalhista (AMT).

Em entrevista ao portal do PDT, a presidente nacional da AMT e primeira vice-presidente nacional do PDT, Miguelina Vecchio, contou um pouco da história do Movimento e falou sobre a luta das mulheres trabalhistas na política brasileira.

 

PDT – Quando nasceu a AMT e o que motivou a sua criação?

MiguelinaO PDT foi o primeiro partido político a incluir a questão da mulher em seu estatuto partidário. Brizola tinha a visão da necessidade de qualificar os quadros femininos do partido. Então, entre 1980 e 1981, foi criado o primeiro Movimento de mulheres.

A primeira intenção da AMT era tornar as mulheres visíveis dentro do partido. Em seguida, fizemos do discurso do partido sobre a igualdade da mulher, algo orgânico no exercício do poder. Por exemplo: se tem prefeitura do PDT, tinha que incluir secretárias mulheres para fazer políticas públicas voltadas para as mulheres.

Além disso, tínhamos a ideia de capacitar as mulheres para o exercício do mandato com uma visão mais generosa para o conjunto do gênero feminino.

PDT – Como a Ação construiu sua identidade?

Miguelina – No princípio, muitas mulheres do Movimento não tinham uma visão apurada sobre gênero e construção da igualdade. Era uma luta para disputar o poder individualmente. Com o tempo, fomos entendendo que os avanços tinham de ser coletivos e todas nós aprendemos com isso. Tivemos de nos acostumar com a ideia de que esse aprendizado coletivo é que levaria a AMT a se tornar efetivamente um órgão dentro do PDT.

Começamos a fomentar dentro dos organismos internos do partido que essas mulheres começassem a ocupar espaço na sociedade civil organizada. A primeira orientação era para que elas fossem para os Conselhos de Direitos das Mulheres nos municípios e nos Estados, levando o nome da Ação da Mulher Trabalhista como sua identidade. Assim fomos conquistando espaço.

PDT – A política no Brasil é essencialmente machista. De que forma a AMT conquistou espaço nesse universo?

Miguelina – Essa conquista começou dentro do próprio partido. Lançamos o Movimento, mas tínhamos pouca representatividade no exercício da estrutura partidária. A Executiva Nacional, por exemplo, tem poucas mulheres. Essa realidade tem mudado desde que Lupi assumiu a presidência do PDT, porque ele tem uma visão diferenciada a respeito da questão da mulher. Muitos companheiros homens que estão na Executiva acham que devem ocupar todo o espaço. Mas Lupi faz pressão para que a gente ocupe esse espaço e todo mundo acaba concordando porque ele é o líder.

Depois que chegamos aos Conselhos de Direitos das Mulheres, começamos a disputar espaço para ocupar Secretarias da Mulher em prefeituras do PDT. Aqui em Porto Alegre, por exemplo, a secretária da mulher é presidente estadual da AMT no Rio Grande do Sul.

Passamos a fiscalizar as políticas para a mulher por meio dos Conselhos e, também, a formular essas políticas nas Secretarias. Não foi fácil porque existiam interesses divergentes a nossa causa, mas ganhamos a briga e os nomes indicados para as Secretarias, hoje, são escolhidos pela Ação da Mulher Trabalhista.

PDT – Quais as grandes conquista da AMT em sua jornada?

Miguelina – Conseguimos muitos avanços dentro do próprio partido. Para começar, eu sou a primeira vice-presidente mulher do PDT. Baixamos uma resolução para que as mulheres que ocupam os 30% das vagas nos diretórios sejam indicadas por nós. Aumentamos o investimento partidário em capacitação de mulheres para mais de 10% dos fundos, em vista que o mínimo estabelecido por Lei é de 5%.

Essas são algumas das nossas conquistas e volto a afirmar que o apoio do presidente Carlos Lupi foi muito importante para o desenvolvimento da AMT. De todos os Movimentos de mulheres em partidos políticos, o nosso é o que tem a melhor relação com a presidência.

PDTQuais os frutos da luta da AMT para a sociedade em geral?

Miguelina – Muitos. Na medida em que a Ação interfere no exercício das prefeituras, por exemplo, mostra para as mulheres qual é a necessidade da escola integral. É ela que vai reduzir ou banir o trabalho infantil, evitar a gravidez na adolescência, entre outras coisas. Em poucos itens explicados para as mulheres, elas passam a entender a escola de turno integral além de um lugar para deixar os filhos. Isso é um processo de intervenção que as mulheres são capazes de fazer para outras mulheres.

Outro exemplo: desde que a nossa companheira assumiu a subsecretária de mulheres do município de Porto Alegre, nenhuma vítima de violência foi a óbito. Lá tem um sistema integrado com outras prefeituras que quando uma mulher está sendo perseguida, ela é tirada da cidade. Isso é o exercício daquilo que acreditamos e que podemos colocar na gestão pública.

PDT – Qual a importância da inserção da mulher na política?

Miguelina – Total. Não se pode falar em igualdade, socialismo, oportunidades, se tiver mais da metade da população [mulheres no Brasil] banida das decisões políticas. É a política que define tudo. Se as mulheres não estiverem neste processo, a política não terá a totalidade dos sonhos e dos desejos da população.

Ainda que tenhamos menos de 10% de representação, não daria para contar que estes 10% se reconhecem como mulheres no exercício do mandato porque muitas são filhas de alguém, mulheres de alguém, e acabam fazendo política com o olhar masculino. É preciso continuar lutando pelo nosso espaço para que a representatividade na política traduza a realidade social do país.